segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO

A NATUREZA HUMANA DE CRISTO
A humanidade de Cristo passou pelos diversos estágios de desenvolvimento, como qualquer outro membro da raça humana. Da infância a idade adulta houve crescimento constante, tanto em vigor físico como em suas faculdades mentais. Não temos parâmetros para aferir até que ponto sua natureza impecável exerceu influencia em seu crescimento. As Escrituras, entretanto, declaram que seu crescimento e suas limitações estiveram sujeitas às leis ordinárias do desenvolvimento humano.

Nos evangelhos temos o relato do seu nascimento, sua vida, seus milagres, sua morte, sua ressurreição, tudo registrado por seus discípulos, principalmente no evangelho de Lucas, cujo propósito é apresentar a humanidade de Jesus, mostrando-o como homem genuíno, normal e perfeito, que revelara Deus aos homens, com sua graça salvadora para a humanidade caída. Em sua reverência pelo Cristo divino, às vezes os homens se esquecem do Cristo humano. Não se deve salientar o esplendor de sua divindade a ponto de obscurecer a Sua verdadeira humanidade. Foi o que fizeram os gnósticos e os docetas.

A Bíblia declara que o Senhor Jesus veio ou foi manifestado em carne: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como a do unigênito do Pai” (Jo 1.14). Aqui precisamos ser muito cuidadosos. A Bíblia nos diz que Cristo se fez carne, mas apenas semelhança da carne do pecado. Em Romanos 8.3-4, Paulo escreveu: “Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. Quando Cristo se fez carne, Ele não tomou sobre si a corrupção da carne, mas apenas a semelhança. O termo “carne” denota a natureza humana de Jesus. As Escrituras revelam claramente que Jesus possuía as características essenciais da natureza humana, isto é, um corpo material e uma alma racional.

Sua humanidade, conforme registrada nas Escrituras, é algo de que não se pode ter dúvidas. Ao nascer, Jesus Cristo sujeitou-se às condições da vida humana, bem como do corpo humano. Sua humanidade é demonstrada:

Nasceu de uma mulher: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mt 1.18). “Mas, vindo à plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gl 4.4-5).

Cresceu como uma pessoa normal: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52).

Sentiu sofrimento e dor:E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lc 22.44).

Sentiu cansaço:Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto a fonte, por volta da hora sexta” (Jo 4.6).

Teve Fome:E depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mt 4.2).

Teve sede:Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho Sede” (Jo 19.28).

Tinha emoções:Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve“ (Lc 10.21). Na morte de Lázaro “Jesus, vendo-a a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se” (Jo 11.33).

Possuía um corpo físico: “Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento” (Mt 26.11-12). “E, vinda já a tarde, chegou um homem rico, de Arimatéia, por nome José, que também era discípulo de Jesus. Este foi ter com Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que o corpo lhe fosse dado” (Mt 27.57-58).

Possuía alma racional:Então, lhes disse: A minha alma está angustiada triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26.38).

Possuía espírito humano:Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito! E, dito isto, expirou” (Lc 23.46).

Jesus se fez carne e foi sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado. Ele foi revestido do corpo humano porque o pecado entrou por um homem e pela justiça de Deus tinha de ser vencido por um homem. A Bíblia diz que o pecado entrou no mundo por meio de Adão:

Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5.12).

Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos” (Rm 5.18-19).

Desde que o homem pecou era necessário que ele sofresse a punibilidade. A Bíblia mostra que todo gênero humano está condenado; que o homem está perdido na maldição do pecado (Sl 14.2-3; Rm 3.23). Era necessário que Cristo assumisse a natureza humana, não somente com todas as suas particularidades indispensáveis, mas também com todas as fragilidades a que está sujeita depois da queda, e assim, devia descer às profundezas da degradação em que o homem tinha caído.

As Escrituras são categóricas em afirmar que somente Deus pode salvar: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador” (Is 43.11). Portanto, somente um Mediador verdadeiramente humano, que tivesse conhecimento experimental das misérias da humanidade e se mantivesse acima da todas as tentações, poderia entrar empaticamente em todas as experiências, provações e tentações do homem, como podemos demonstrar:

 Hebreus 2.17-18:Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”.

Hebreus 4.15:Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós em tudo foi tentado, mas sem pecado”.  

Hebreus 5.2:E possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza. e ser um perfeito exemplo humano para seus seguidores”.

 Jesus, o verdadeiro Deus e o homem perfeito, tornou-se “carne” para suprir a necessidade da humanidade. Quando assumiu a forma humana na Terra, Jesus não se apegou às prerrogativas da divindade para vencer o diabo, mas aniquilou-se a si mesmo: “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.7-8).

A NATUREZA DIVINA DE CRISTO
A maioria das pessoas afirma respeitar os ensinamentos da Bíblia. Muitas delas chegam a afirmar a inspiração divina das Sagradas Escrituras, entretanto alegam que os ensinos da Bíblia contém apenas uma parcela da revelação de Deus, e que Ele tem falado, ou continua falando, de uma forma extrabíblica, à parte das Escrituras, não levando em consideração a admoestação do apóstolo João em Apocalipse, que diz: “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro” (Ap 22.18-19).

A Bíblia é autoridade final na determinação de questões doutrinárias (2 Tm 3.16-17). A Palavra de Deus não permite novos ensinamentos que possam alterar seu conteúdo ou fazer-lhe acréscimos. O apóstolo Paulo disse: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema” (Gl 1.8).

Nestes dois ensinamentos apostólicos fica bem claro que nada pode ser acrescentado ou retirado das Escrituras. Devemos nos guiar pelo que está escrito. Não podemos crer só em parte da Bíblia, temos de crer nela com um todo. Não posso crer apenas no que me convém. Ou creio em tudo ou rejeito todos os seus ensinamentos:

Ao considerar a divindade de Cristo, a questão não reside em se eu devo crer ou mesmo compreendê-la, mas saber que ela é ensinada nas Escrituras. Se cremos que a Escritura é a infalível Palavra de Deus, então a divindade de Jesus é indiscutível. Saber quem é Jesus é algo tão importante quanto o que Ele fez. Muitos acreditam que Ele esteve na Terra, fez muitos milagres e muitas outras coisas nunca antes vistas. A dificuldade para alguns é: quem é Cristo? Que tipo de pessoas Ele é?

Sendo assim, devemos permitir que Deus desse a última palavra a respeito de si mesmo. A Bíblia ensina que Jesus é Deus:

NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1. 1-3).

Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo” (Tt 2.13).

E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5.20).

Jesus conferiu para si os nomes e títulos dados a Deus no Antigo Testamento e também permitiu que outros assim o chamassem. Quando Ele reivindicou esses títulos divinos, os principais dos judeus ficaram tão irados que tentaram matá-lo por blasfêmia. Ele reivindicou para si o nome mais respeitado pelos judeus, tido como tão sagrado que eles nem mesmo o pronunciavam: YHWH.

Deus revelou pela primeira vez o significado desse nome ao seu servo, depois de haver lhe perguntado por qual nome deveria chamá-lo: “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Ex 3.14). “EU SOU” não é a tradução de YHWH. Todavia, trata-se de um derivado do verbo “ser”, do qual também deriva o nome divino Yahweh (YHWH) em Êxodo 3.14. Portanto, o título “EUSOU O QUE SOU” indicado por Deus a Moisés é a expressão mais plena de seu ser eterno; abreviado no versículo 15 para o nome divino YHWH.

A Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento hebraico, traduziu o primeiro uso da expressão “EU SOU” em Êxodo 3.14 por “ego eimi” no grego. Em várias ocasiões Jesus empregou o termo “ego eimi” referindo-se a si mesmo, na forma unicamente usada para Deus. Alguns exemplos claros:
Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou! (no grego “ego eimi”). Então pegaram em pedras para atirar nele, mas Jesus se ocultou, e saiu do templo” (Jo 8.57-59).

Jesus atribuiu esse título a Ele também em outras ocasiões. Neste mesmo capítulo Ele declarou: “Por isso vos disse que morreríeis nos vossos pecados, porque se não credes que Eu SOU (no grego “ego eimi”), morreríeis em vossos pecados” (Jo 8.24).

Disse ainda: “Quando levantardes o Filho do Homem, então sabereis que EU SOU (no grego “ego eimi”) e que nado faço de mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (Jo 8.28).

Quando os guardas do templo, juntamente com os soldados romanos, foram prendê-lo no Getsêmani, Jesus perguntou-lhes: “A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então Jesus lhes disse: Sou eu (no grego “ego eimi”)... Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou Eu (no grego “ego eimi”), recuaram e caíram por terra” (Jo 18.4-6).

Não resta dúvida quanto a quem os líderes judaicos pensavam que Jesus estava proclamando ser. Fica, portanto, bem claro que, na mente daqueles que ouviram essa afirmação, não havia qualquer incerteza de que Jesus tivesse dito que Ele era Deus. Essas afirmações foram consideradas blasfêmias pelos líderes religiosos e resultaram em sua crucificação “porque a si mesmo se fez Filho de Deus” (Jo 19.7). Os atributos divinos que são dados a Deus Pai também são encontrados em Jesus, o que evidência sua divindade, portanto o filho é Deus como o Pai e o Espírito Santo.

Concluímos que durante esta vida podemos e devemos conhecer Deus até o ponto necessário para a salvação, confraternização, serviço e maturidade, mas na glória do céu passaremos a conhecê-lo mais plenamente. Assim, pois de forma bem real, o estudo da vida de Jesus Cristo e sua importância é, ao mesmo tempo, uma sondagem na significação da nossa existência e uma previsão de nosso destino. Por certo todos nós deveríamos nos interessar nessa inquirição.


 

FONTES:
Manual de Teologia Sistemática, Márcia Falcão – O Arado
Teologia Sistemática, Louis Berkhof – Luz Para o Caminho
Módulo de Teologia da FTB - Betesda

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